Espécies Invasoras

 

A riqueza dos ecossistemas naturais reside na sua biodiversidade nativa e na forma como estes elementos moldaram aquele sistema natural ao longo dos tempos. Contudo, este equilíbrio é frágil e a entrada de uma ou mais novas espécies, com características invasoras, pode afetar este equilíbrio entre espécies e alterar o ecossistema nativo, por vezes de forma irreversível.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, uma Espécie Exótica Invasora (EEI) é aquela “que se estabelece num ecossistema ou habitat natural, convertendo-se num agente de mudança e ameaça à diversidade biológica nativa” (ISSG, 2000).

Para além dos impactos ecológicos, a sua rápida capacidade colonizadora pode provocar também múltiplos efeitos negativos, ao nível social e económico, direto ou indireto, podendo interferir com as atividades principais e secundárias realizadas, incluindo o colapso de estruturas que dependam dos recursos afetados. São também possíveis as repercussões na saúde pública, já que as espécies invasoras podem transportar agentes desconhecidos para a imunidade local.

Neste contexto a EDIA desenvolve, há mais de uma década, um conjunto de ações direcionadas para o conhecimento e controlo das espécies invasoras aquáticas que mais riscos implicam para o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA).

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Jacinto de água
A bacia hidrográfica do rio Guadiana, origem principal da água de Alqueva, tem uma extensa área plana na zona intermédia do seu troço, a montante da albufeira de Alqueva, com extensas áreas agrícolas de regadio e com condições ideais para o crescimento de espécies aquáticas invasoras de climas quentes e de regimes lênticos. Uma dessas espécies é o Jacinto de água (Eichhornia crassipes), uma espécie aquática flutuante invasora, originária da bacia do Amazonas, que se reproduz com grande velocidade em sistemas aquáticos temperados onde abundem os nutrientes.

Em 2004 ocorreu a primeira observação de Jacinto no rio Guadiana, na zona de Medellin, tendo sido iniciado por Espanha, em 2005, um processo de remoção e controlo de Jacinto, o qual conteve a expansão da espécie a montante de Mérida. Em 2009 o Jacinto de água reduziu-se de forma inédita, suportada por uma recolha planta a planta por equipas de campo em pequenas embarcações, aparentando uma quase erradicação, o que, coincidindo com um período de crise económica, levou a um abrandamento do esforço de controlo.

Em 2011 ocorre uma nova invasão, ultrapassando a barragem de Montijo (Mérida), a última barreira física até à fronteira com Portugal, tendo sido realizada pela EDIA a delimitação de um troço de controlo, entre a fronteira do Caia e a Ponte da Ajuda (12km), no qual foram implementadas um conjunto de atividades de remoção e controlo, nomeadamente através da colocação de barreiras flutuantes e trabalhos semanais de remoção manual de Jacinto de água dissimulado na vegetação.

A dispersão em Espanha continuou levando a um alargamento progressivo da área colonizada em Espanha, observando-se, em 2015, a invasão massiva da zona de Badajoz.

A EDIA, consciente deste risco desde 2012, acompanhou o esforço desenvolvido pelas entidades espanholas e implementou as seguintes ações:

  • Colocação de sete barreiras flutuantes de contenção no troço de controlo, entre a fronteira do Caia e a Ponte da Ajuda;
  • Criação de novos acessos consolidados para máquinas e embarcações;
  • Presença de equipas embarcadas que realizam recolhas manuais de exemplares pioneiros, com periodicidade semanal; Participação nos trabalhos de reabilitação do rombo existente há décadas no Açude do Monte da Vinha, no rio Guadiana, a jusante da fronteira do Caia;
  • Instalação de uma Estação Automática de Recolha de Jacinto de Água, no rio Guadiana, junto ao Açude do Monte da Vinha;
  • Aquisição de uma máquina de rastos anfíbia multifunções para trabalhos de recolha ou prospeção em zonas com acessibilidade mais difícil;
  • Realização de ações de sensibilização junto da comunidade civil e científica;
  • Desenvolvimento com Espanha de uma estratégia ibérica de controlo, atualmente em vigor.

O combate ao Jacinto de água foi apoiado pelo projeto INVASEP, entre Portugal e Espanha, entre 2012 e 2016, assim como pelo projeto ACECA, entre 2016 e 2020, os quais permitiram uma abordagem ibérica contra esta invasora na bacia hidrográfica do Guadiana. Mais recentemente foi também apoiado pelo projeto Zona J, do POSEUR, direcionado para a melhoria das condições ecológicas na zona de cabeceira da albufeira de Alqueva e pelo projeto Guadiana Zero, do Fundo Ambiental Português.

Até hoje foi possível prevenir a entrada de Jacinto de água na albufeira de Alqueva e no rio Guadiana a jusante desta estrutura, apesar da presença massiva desta espécie na área a montante da fronteira do Caia, mantendo-se a parte portuguesa da bacia hidrográfica do Guadiana livre desta espécie invasora, salvaguardando todas as atividades que se realizam nesta albufeira ou que dependem da sua água.

» Jacinto de Água (vídeo)
» Capivara – Veículo anfíbio de combate a infestantes aquáticas (vídeo)
» Sou o Guadiana –  As Invasões (vídeo)

 

 

Mexilhão-zebra
A distribuição de algumas espécies de bivalves de água doce tem acompanhado as atividades humanas desde o início do século XX. É exemplo desta dispersão o Mexilhão-zebra (Dreissena polymorpha), que se encontra atualmente em expansão na Península Ibérica. O Mexilhão-zebra é um pequeno molusco bivalve de água doce, nativo dos mares Cáspio e Negro, com uma dimensão entre 1cm e 4cm de comprimento. Apesar de muito mais pequeno, seu aspeto é semelhante a um mexilhão de mar, com concha triangular, distinguindo-se pelo desenho irregular de bandas negras e brancas.

Esta espécie é considerada uma das espécies invasoras com mais riscos para os meios aquáticos dulçaquícolas, em resultado da sua extraordinária capacidade de fixação, provocando danos nas espécies nativas, mas também o mau funcionamento das estruturas a que se fixa, como motores, embarcações, bombas hidráulicas, interior de tubagens, comportas, sistemas de abastecimento de água sob pressão, canais de rega, entre outros.

A colonização de bacias hidrográficas em Espanha iniciou-se pela bacia do rio Ebro, no nordeste da Península Ibérica, em 2001, tendo a dispersão da espécie seguido para sul, cruzando várias bacias hidrográficas por ação humana. Na bacia hidrográfica do Guadalquivir, adjacente à bacia hidrográfica do Guadiana, os primeiros indivíduos de Mexilhão-zebra foram detetados em 2009, na albufeira de Bermejales e posteriormente, em 2012, na albufeira de Iznájar. Depois do estudo realizado pela Confederação Hidrográfica de Guadalquivir, de 2015 a 2019, foram reveladas novas populações.

Desde 2012 a EDIA tem implementado medidas destinadas especificamente a esta espécie invasora, designadamente:

  • Monitorização de mexilhão-zebra em dezenas de locais no EFMA, quer por análises de água por microscopia de luz polarizada, quer por deteção genética;
  • Cabos de deteção precoce, dispersos pelas massas de água do Empreendimento;
  • Colocação de sinalética nas principais entradas da albufeira de Alqueva;
  • Funcionamento gratuito de estações de desinfeção de embarcações em eventos de pesca desportiva na albufeira de Alqueva;
  • Presença de estações de desinfeção móveis que acompanham a movimentação de equipamentos entre massas de água, sob responsabilidade da EDIA;
  • Realização de ações de sensibilização junto da comunidade civil e científica.

Contudo, a medida mais eficaz demonstrou ser a rede de cabos de deteção precoce, suspensos em mais de 60 pontos em todo o EFMA, num dos quais foi detetada precocemente a presença de mexilhão-zebra no reservatório de tela de Alfundão.

Esta deteção, em outubro de 2019, representou a primeira deteção da espécie em Portugal, mais especificamente na bacia hidrográfica do Sado, confinante com a bacia hidrográfica do Guadiana, o que motivou um conjunto de medidas destinadas a eliminar esta espécie exótica invasora, uma vez que a disseminação do Mexilhão-zebra é bastante rápida. As ações da EDIA foram enérgicas, tendo sido implementados protocolos de desinfeção e eliminação desta invasão em todos os locais para onde já se tinha dispersado, tendo sido possível, até à data, eliminar a espécie no local da primeira deteção e impedir a propagação da espécie invasora para outras áreas da bacia do Sado e bacias adjacentes.

A reduzida quantidade de medidas preventivas e a elevada quantidade de vetores de dispersão, como embarcações, atrelados, equipamentos de pesca ou lúdicos, entre outros, resulta na contínua dispersão desta espécie invasora, de este para oeste, ao longo da Península Ibérica, nos últimos 20 anos, estando iminente a colonização de novas áreas em Portugal.

Com exceção da ocorrência na bacia hidrográfica do Sado, não existem mais registos desta espécie em nenhuma outra bacia hidrográfica de Portugal, mas o esforço de deteção na maior parte das bacias hidrográfica portuguesas é também muito reduzido.
O combate ao mexilhão-zebra no EFMA foi apoiado pelo projeto INVASEP, entre Portugal e Espanha, entre 2012 e 2016, e pelo projeto Ação Z – Controlo e Erradicação de mexilhão-zebra Dreissena polymorpha no EFMA, foi desenvolvido em parceria entre a APA e a EDIA e financiado pelo Fundo Ambiental Português.

» Projeto AÇÃO Z combate ao Mexilhão-zebra (vídeo)